A Lista de Schindler e Amon: meu avô teria me executado, Jennifer Teege
Andando pelo shopping me deparei com aquelas feirinhas irresistíveis de livros, fui até lá e trouxe dois títulos para casa. Um deles é Amon: meu avô teria me executado (A história da alemã negra que descobriu ser neta de Amon, o carrasco de Hitler imortalizado no filme A lista de Schindler). Nunca tinha ouvido falar nesse livro e o filme me soava familiar, embora nunca tivesse assistido.
Ano passado comecei a lê-lo, mas acabei abandonando lá pela página 80. Este ano decidi priorizar o filme e foi uma decisão muito acertada! Reli o livro desde o início e acho que a história acabou me envolvendo mais porque estava com aquelas imagens muito vivas na memória.
A LISTA DE SCHINDLER
A Lista de Schidler é um filme de 1993 dirigido por Steven Spielberg, baseado em fatos reais e conta a história de Oskar Schindler. O alemão vê uma oportunidade de lucrar em meio à guerra utilizando mão de obra judia. Como possuía muita influência no partido nazista, facilmente conseguiu colocar sua fábrica de panelas esmaltadas em funcionamento. Em meio ao desenrolar da trama, Schindler começa a se sensibilizar e contrata judeus para salvá-los dos campos de concentração. Aumenta, assim, a sua fama de homem bondoso e há sempre mais pessoas procurando-o com esperança de salvar-se.
O filme é longo e pesado, são 3 horas de uma narrativa melancólica, triste e em preto e branco. Nele conhecemos outros personagens como Amon Goth, carrasco do campo de Plaszow, na Polônia. Há imagens explícitas das atrocidades cometidas por ele e outros alemães que subjugavam, humilhavam e assassinavam judeus friamente. Conhecemos detalhes do holocausto, a crueldade, o medo, tentativas de fuga, exploração e total falta de humanidade.
Em um dado momento, a ordem era que todos os prisioneiros fossem levados à Auschwitz. Diante disso, Oskar Schindler, utiliza-se de suas boas relações com Amon Goth e compra cerca de 1.100 judeus para trabalhar em uma nova fábrica que ele abriria. Para isso, abre mão de toda a fortuna acumulada nos anos de guerra para dar uma oportunidade àquelas pessoas, para dar a elas suas vidas de volta.
Nitidamente, Schindler é um homem dúbio, alemão milionário, ostenta com festas e amantes, não questiona seus amigos carrascos sobre o que fazem. Ou seja, usufruiu de todo o horror e seus lucros financeiros e de influência. Por outro lado, acaba utilizando essas mesmas características para salvar muitas pessoas que tragicamente seriam mortas. Embora seu comportamento a maior parte do tempo possa ser questionável, sua atitude é louvável e honrosa.
AMON: MEU AVÔ TERIA ME EXECUTADO
O livro com essa temática não poderia ser leve e descontraído, mas é muito enriquecedor. Nele, Jennifer Teege, em conjunto com Nikola Sellmair, conta a história de sua vida e construção da sua família. Aos 38 anos, por acaso, ela encontra um livro de capa vermelha e o rosto de sua mãe estampado, Monika Goth. Lembrava de ter visto aquele sobrenome em documentos antigos. Ao se deparar com o fato de ser neta de um carrasco do campo de Plaszow, fica devastada.
Jennifer Teege é fruto de um breve relacionamento de Monika Goth e um nigeriano. Com apenas uma semana de vida foi levada a um orfanato e aos sete anos foi adotada por uma família alemã. Inicialmente, ela manteve contato com a mãe e a avó materna, Ruth Irene Goth, até que os laços fossem cortados pela família adotiva. Até encontrar a biografia de sua mãe, Jennifer nunca tinha buscado conhecer seu passado, embora tivesse lembranças muito amorosas de sua avó. Teve, desde sempre, um ótimo relacionamento com seus irmãos adotivos. Com os pais, também se relacionava bem, mas nutria um sentimento de inadequação típico de filhos adotados.
Durante a juventude, Teege morou e estudou em Israel, aprendeu hebraico e se debruçou sobre muitos temas que circundam o Oriente Médio e seus conflitos. Conheceu e se relacionou com muitos judeus antes de voltar a viver na Alemanha. Ao entrar em contato com aquele livro, ela começou a se questionar se seus pais adotivos sabiam quem era seu avô, como seria sua relação com amigos tão afetados pela história, como sua avó convivia com aquele ser tão desprezível etc. Ela tinha todas as características que seu avô abominaria.
Todos esses questionamentos levaram Jennifer Teege a uma verdadeira jornada de estudo e busca para resgatar sua história. Ela lê e relê muitos livros, assiste a documentários e filmes sobre o holocausto, sobreviventes e famílias de judeus e alemães, viaja para a Polônia, visita campos de concentração. Todo esse esforço de reconstrução de sua vida é descrito no livro e intercalado com informações adicionais de Nikola Sellmair que faz contextualizações históricas, traz dados de entrevistas com pessoas próximas e profissionais como psicanalistas e estudiosos.
Fiquei impressionada com a coragem de Jennifer enfrentar tantos sentimentos conflituosos e ainda seguir em frente, aceitando seu carinho pela avó materna, se percebendo pertencente àquela família adotiva e àqueles amigos que tanto sofreram com o holocausto. Ter o nazismo em sua história a afetaria, mas não faria dela uma daquelas pessoas. Percorrer esse caminho de enfrentamento e reconstrução deu a ela ainda mais força e empatia por ambos os lados.
Amon: meu avô teria me executado é um livro maravilhoso, é uma história de autoconhecimento, uma jornada acompanhada de angústias e dúvidas, mas de muitas descobertas que só foram possíveis ao se debruçar sobre o tema e explorá-lo até que fosse possível conviver com ele tendo clareza sobre os fatos e sentimentos envolvidos.
Ano passado comecei a lê-lo, mas acabei abandonando lá pela página 80. Este ano decidi priorizar o filme e foi uma decisão muito acertada! Reli o livro desde o início e acho que a história acabou me envolvendo mais porque estava com aquelas imagens muito vivas na memória.
A LISTA DE SCHINDLER
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Cena do filme https://occ-0-990-987.1.nflxso.net/art/99d11/ edf7fa75de2e343c79179fa40a83c0494a199d11.jpg |
O filme é longo e pesado, são 3 horas de uma narrativa melancólica, triste e em preto e branco. Nele conhecemos outros personagens como Amon Goth, carrasco do campo de Plaszow, na Polônia. Há imagens explícitas das atrocidades cometidas por ele e outros alemães que subjugavam, humilhavam e assassinavam judeus friamente. Conhecemos detalhes do holocausto, a crueldade, o medo, tentativas de fuga, exploração e total falta de humanidade.
Em um dado momento, a ordem era que todos os prisioneiros fossem levados à Auschwitz. Diante disso, Oskar Schindler, utiliza-se de suas boas relações com Amon Goth e compra cerca de 1.100 judeus para trabalhar em uma nova fábrica que ele abriria. Para isso, abre mão de toda a fortuna acumulada nos anos de guerra para dar uma oportunidade àquelas pessoas, para dar a elas suas vidas de volta.
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Cena do filme: Amon Goth e Oskar Schindler https://ovicio.com.br/wp-content/uploads/2019/04/20190411-schindler-list-1540x834.jpg |
Nitidamente, Schindler é um homem dúbio, alemão milionário, ostenta com festas e amantes, não questiona seus amigos carrascos sobre o que fazem. Ou seja, usufruiu de todo o horror e seus lucros financeiros e de influência. Por outro lado, acaba utilizando essas mesmas características para salvar muitas pessoas que tragicamente seriam mortas. Embora seu comportamento a maior parte do tempo possa ser questionável, sua atitude é louvável e honrosa.
AMON: MEU AVÔ TERIA ME EXECUTADO
O livro com essa temática não poderia ser leve e descontraído, mas é muito enriquecedor. Nele, Jennifer Teege, em conjunto com Nikola Sellmair, conta a história de sua vida e construção da sua família. Aos 38 anos, por acaso, ela encontra um livro de capa vermelha e o rosto de sua mãe estampado, Monika Goth. Lembrava de ter visto aquele sobrenome em documentos antigos. Ao se deparar com o fato de ser neta de um carrasco do campo de Plaszow, fica devastada.
Jennifer Teege é fruto de um breve relacionamento de Monika Goth e um nigeriano. Com apenas uma semana de vida foi levada a um orfanato e aos sete anos foi adotada por uma família alemã. Inicialmente, ela manteve contato com a mãe e a avó materna, Ruth Irene Goth, até que os laços fossem cortados pela família adotiva. Até encontrar a biografia de sua mãe, Jennifer nunca tinha buscado conhecer seu passado, embora tivesse lembranças muito amorosas de sua avó. Teve, desde sempre, um ótimo relacionamento com seus irmãos adotivos. Com os pais, também se relacionava bem, mas nutria um sentimento de inadequação típico de filhos adotados.
Durante a juventude, Teege morou e estudou em Israel, aprendeu hebraico e se debruçou sobre muitos temas que circundam o Oriente Médio e seus conflitos. Conheceu e se relacionou com muitos judeus antes de voltar a viver na Alemanha. Ao entrar em contato com aquele livro, ela começou a se questionar se seus pais adotivos sabiam quem era seu avô, como seria sua relação com amigos tão afetados pela história, como sua avó convivia com aquele ser tão desprezível etc. Ela tinha todas as características que seu avô abominaria.
Todos esses questionamentos levaram Jennifer Teege a uma verdadeira jornada de estudo e busca para resgatar sua história. Ela lê e relê muitos livros, assiste a documentários e filmes sobre o holocausto, sobreviventes e famílias de judeus e alemães, viaja para a Polônia, visita campos de concentração. Todo esse esforço de reconstrução de sua vida é descrito no livro e intercalado com informações adicionais de Nikola Sellmair que faz contextualizações históricas, traz dados de entrevistas com pessoas próximas e profissionais como psicanalistas e estudiosos.
"'Violência e brutalização têm efeitos profundos nas gerações seguintes. O que causa a doença não são os crimes em si, mas sim o silêncio sobre eles. Essa conspiração desastrosa do silêncio nas famílias dos criminosos costuma perdurar por gerações.'
A culpa não pode ser herdada, mas os sentimentos de culpa sim. Segundo Brundl, os filhos dos criminosos repassam medos, sentimentos de vergonha e culpa de forma inconsciente aos seus filhos. Isso afeta mais famílias na Alemanha do que se pode imaginar."
"Violentar-nos o tempo todo e amaldiçoar-nos nos faz adoecer. Esse sofrimento por si mesmo e pela história familiar é repassado para os filhos.
Convivi com vítimas do Holocausto em Israel, e muitas se enterraram na dor e repassaram seus medos também para as próximas gerações. O trauma que o filho de uma vítima do Holocausto vivencia é muito diferente daquele do filho de um criminoso, mas a transmissão funciona de forma semelhante.
Sei que não quero viver como a minha mãe, presa ao passado e sempre à sombra de Amon Goth."
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