Minha História, Michelle Obama
Minha História, de Michelle Obama é um livro-manifesto. Um manifesto em favor da mulher, do negro, do exercício da cidadania através do voto, da educação e, principalmente, das portas abertas e nosso dever de, ao abri-las, ajudar outras pessoas a passarem por elas.
O livro é uma autobiografia da ex-primeira-dama dos EUA narrada de forma cronológica, desde a sua infância, passando pelas universidades de Harvard e Princeton, até o fim do segundo mandato de Barack Obama. Sua escrita é fluida e muito envolvente, é política sem ser cansativa. Um dos aspectos de sua vida que mais me chamou a atenção foi o fato de que tanto ela quanto Obama já participavam de projetos sociais e políticos desde de muito jovens, anos antes de serem o conhecido casal que chegou à Casa Branca.
A residência e seu funcionamento são um capítulo à parte. Foi muito interessante conhecer um pouco dos bastidores da família, todos os esquemas de segurança e protocolos que regiam cada passo. Para Michelle, essa rotina estava longe do que pretendia para a família, em especial para suas duas filhas. Aos poucos conseguiu conciliar a proteção necessária e a liberdade de uma infância o mais próximo possível da normalidade.
Há muitos pontos que merecem destaque nessa biografia. A fidelidade de Michelle aos seus valores desde a infância até a maturidade é impressionante. Ela expõe suas forças e fraquezas de maneira muito honesta, fala de seus medos e inseguranças sem perder de vista os desejos que movem suas escolhas. E a generosidade? Ela diz com todas as letras que não gostaria que Obama se candidatasse, mas sabendo que esse era um desejo íntimo dele, não só o apoiou, como foi lá e fez campanha, se expôs e contribuiu para o sucesso do marido e o mais bonito, sem ficar à sombra dele.
Como ela mesma diz, não há um manual ou nada que oriente primeiras-damas sobre o que fazer ou como agir. Mas Michelle tinha convicção de que trabalharia em prol de algumas causas, embora soubesse dos desafios que envolvem a atuação política, interesses empresariais e o Congresso. Seus principais projetos estavam ligados à educação e família. Dedicou-se a uma horta criada na Casa Branca, como pontapé para o debate sobre a obesidade infantil e qualidade dos alimentos ofertados às crianças. Dali, saíram diversas ações e mudanças efetivas na legislação.
Ainda no campo da educação, procurou incentivar jovens meninas a ocuparem o mercado de trabalho através de mentorias, estímulo ao estudo, rodas de conversa. Michelle podia se ver naquelas meninas de escolas precárias e sabia que nem todas teriam as mesmas e boas oportunidades, mas procurava encorajá-las a usufruir de tudo o que tivessem à sua disposição para um futuro melhor, por meio do estudo e trabalho.
Quando digo que parte de seus projetos estavam ligados à família, me refiro às famílias de militares, além, é claro, da sua própria. Desde a campanha presidencial, ao conhecer a realidade que viviam, soube que faria o possível por elas. Visitava hospitais, mantinha contato com as pessoas e, muitas vezes, dava àquelas famílias sua escuta, às mães, seu colo. Um trabalho de cidadania.
Amei conhecer a história dessa mulher incrível e recomendo demais a leitura! Deixo aqui alguns trechos que destaquei para refletirmos sobre alguns assuntos que ela traz com frequência ao longo do livro.
"Todo mundo parecia se encaixar, menos eu. Hoje relembro o desconforto que senti naquele momento e reconheço o desafio universal de adequar quem você é ao lugar de onde veio e ao lugar aonde deseja chegar."
"Imagino que os diretores de Princeton não gostavam muito de ver que grande parte dos estudantes negros andava junta. Eles esperavam que os alunos se entrosassem, que formassem um grupo diverso e harmônico, e que isso aumentasse o bem-estar de todos. É um objetivo respeitável. (...) Mas ainda hoje, com o número de alunos brancos superando o de alunos negros nas universidades, o fardo da assimilação ainda recai muito nos ombros das minorias. Para mim, é pedir demais."
"A forma mais fácil de desmerecer a voz de uma mulher é resumi-la a uma pessoa rabugenta."
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