O diário de Anne Frank


O Diário de Anne Frank é um daqueles clássicos obrigatórios! Anne é uma menina judia que vive na Holanda e ganha um diário no seu aniversário de 13 anos, já em meio à Segunda Guerra Mundial. Pouco depois, ela e a família vão para o Anexo Secreto, onde se escondem da perseguição alemã com outros quatro amigos. O local pertence ao escritório onde o pai de Anne trabalhava e ali recebem ajuda de alguns funcionários que levam suprimentos e informações sobre o que acontece do lado de fora.

Li a edição mais completa, com todos os trechos omitidos em publicações anteriores, inclusive aqueles em que a Anne fala sobre seu relacionamento conflituoso com a mãe e uma passagem que sugere um possível interesse homossexual. Anne demonstra em diversos momentos o quanto o diário é seu refúgio, ali ela sente-se livre para expressar seus sentimentos e ser ela mesma. A escrita revela-se como mais uma fuga.

Durante a leitura é muito fácil esquecer que quem escreve aquelas entradas é uma menina dos treze aos quinze anos. Podemos sentir seu amadurecimento ao longo do tempo, como ela se reinventa em meio ao caos. Também é possível experimentar as oscilações entre otimismo, esperança e fé seguidas de pessimismo e desesperança.

"Como posso me sentir triste enquanto isso existir, pensei, esta luz, e este céu sem nuvens, e enquanto eu puder desfrutar dessas coisas?"

"Cheguei a ponto de nem me importar se vivo ou se morro. O mundo vai continuar girando sem mim, e não posso fazer nada para mudar os acontecimentos. Vou deixar que as coisas sigam o seu rumo e me concentrar no estudo e na esperança de que tudo acabe bem."

Em diversos momentos, Anne pensa nos amigos, familiares e judeus que não tiveram a mesma sorte, que podem ter sido presos e maltratados. Fica triste e demonstra uma grande empatia e gratidão por estar no Anexo Secreto e mais segura que tantos outros.

"Sinto-me má ao dormir numa cama quente, enquanto em algum lugar meus melhores amigos estão caindo de exaustão ou sendo derrubados. Fico apavorada quando penso em amigos íntimos que agora estão à mercê dos monstros mais cruéis que já assolaram a terra. E tudo porque são judeus."

Nos últimos textos do diário, Anne compartilha o quanto é exaustivo o que eles vivem ali, as privações, ansiedade e incerteza do que está por vir, deseja um desfecho, seja ele qual for.

"Que aconteça alguma coisa logo, até mesmo um ataque aéreo! Nada pode ser mais esmagador que essa ansiedade. Que chegue o fim, mesmo sendo cruel; pelo menos saberemos se vamos ser vencedores ou vencidos."

Poderia aqui tecer comentários sobre sua veia feminista, sobre o papel do estudo e leitura na sua formação e mesmo na resistência aos reveses do esconderijo, sobre o interesse dela pelo amigo de confinamento, histórias de convivência, brigas... O diário de Anne Frank é uma obra histórica que merece ser conhecida e valorizada. A riqueza ali contida não pode ser mensurada, mas tão somente divulgada para que cada vez mais pessoas conheçam a história de Anne e consequentemente mantenham viva a História do mundo.

"Numa época assim tudo fica mais difícil; ideais, sonhos e esperanças crescem em nós, e depois são esmagados pela dura realidade. É incrível que eu não tenha abandonado todos os meus ideais, já que parecem tão absurdos e pouco práticos. Mas me agarro a eles porque ainda acredito, a despeito de tudo, que no fundo as pessoas são boas.

Para mim, é praticamente impossível construir a vida sobre um alicerce de caos, sofrimento e morte. Vejo o mundo ser transformado aos poucos numa selva, ouço o trovão que se aproxima e que, um dia irá nos destruir também, sinto o sofrimento de milhões. E, mesmo assim, quando olho para o céu, sinto de algum modo que tudo mudará para a melhor, que a crueldade também terminará, que a paz e a tranquilidade voltarão. Enquanto isso, devo me agarrar aos meus ideais. Talvez chegue o dia em que eu possa realizá-los!"

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