Revirando a armário: A Escrava Isaura, o clássico

A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães é um clássico dos clássicos. Mas sem orgulho nenhum confesso que a única coisa que sabia da pobrezinha é que era uma escrava branca (não vi a novela baseada no livro). Já tinha terminado de ler O Garoto no Convés e queria continuar minha maratona sem gastar dindin. Foi então que me lembrei desse livro há anos esquecido no armário. A história dele merece um belo parênteses:

(Esse livro não foi comprado, nem ganhado ou herdado, foi resgatado em 2008. Nesse ano, fazia pré-vestibular e tinha aulas até nove e blau da noite. Um belo dia ia eu e alguns amigos saltitantes pelo centro de Nova Iguaçu em direção ao ponto de ônibus quando passamos pelo local onde estava rolando uma feira de livros, entre usados e novos. Quando nos aproximamos vimos muitos livros dentro de lixeiras laranjinhas da Prefeitura e espalhados pelo chão, certamente esperando a Comlurb levá-los embora. Pegamos quantos livros pudemos, mas infelizmente muitos continuaram lá. E A Escrava Isaura era o único dos quatro ou cinco que peguei e ainda não havia lido. Detalhe: o livro em versão pocket foi um presente para vovós de um fulano cuja letra não compreendi, em 1976. É velhinho, amarelado, mas li que foi uma beleza! A discussão crítica sobre a atitude dos donos/organizadores da feira fica para outra oportunidade. Na época escrevi até um texto, tamanha a minha revolta.)

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Voltando à narrativa, o início da leitura foi bastante difícil. Aquele vocabulário rebuscado e típico do século XIX me incomodou um bocado porque já não lia um clássico há algum tempo. Mas aos poucos a trama foi se desenrolando, com diálogos, pensamentos e descrições às vezes até detalhadas demais e fui me envolvendo até a história me absorver. O autor usa parêntesis para explicar ou justificar as cenas e me identifiquei bastante com isso. Fica tudo explicadinho sem ser chato e longo demais.

A escravidão, tema declarado logo no título da obra, é o pano de fundo e ao mesmo tempo a protagonista da história. A maldição da beleza e o infortúnio da escravidão acompanham a vida de Isaura, são marcas que provocam dor e sofrimento. Isso fica muito claro quando o autor descreve a tristeza que toma Isaura diante do carma que carrega, chegamos a nos sentir tristes também. Esperança, medo, tristeza se misturam no decorrer do livro e o autor parece comungar dos mesmos sentimentos, ele se sensibiliza com a situação e manifesta essa percepção diante do que acontece com os próprios personagens que criou.

É tudo muito romântico, muito sofrido, mas a trama me deixou com uma pulguinha atrás da orelha. Tadinha da Isaura, uma moça branca, bonita e muito bem prendada, precisava ser livre. Ok, mas e as demais, as negras feiosas e com menos dotes. Senti um pouco de preconceito, a construção e defesa de um estereótipo  que segue os parâmetros da sociedade da época. Será que se Isaura fosse tão prendada e bonita, mas negra, seria alvo de pesar e desejos de liberdade? Fiquei com esses questionamentos...

Não é um livro extenso e passado aquele início de adaptação à linguagem, a leitura fluiu muito bem e terminei rapidinho. Mais um clássico para a listinha! O próximo desse gênero será Dom Casmurro.

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