Releitura: A menina que roubava livros
Esse ano não será feito somente de releituras, mas elas têm se mostrado fan-tá-ti-cas! O tempo passa e nossa visão muda, nosso jeito de ler e interpretar pela segunda vez traz novas percepções. A releitura de A menina que roubava livros, de Markus Zusak, era obrigatória, mas tornou-se urgente quando vi que o filme estava prestes a ser lançado. Queria reler antes de assistir o longa.
Lembrava que tinha gostado do livro e que o seu iniciozinho foi uma leitura árdua da primeira vez (fins de 2008, início de 2009). Tinha um quê de histórico, nazismo, campos de concentração e uma menina que lia no porão, enquanto os bombardeios aconteciam lá fora. Isso foi o que ficou na memória.
Sem dúvidas, um dos melhores livros que já li!
"Tive vontade de dizer muitas coisas à roubadora de livros, sobre sua beleza e a brutalidade. Mas que poderia dizer-lhe sobre essas coisas que ela já não soubesse? Tive vontade de lhe explicar que constantemente superestimo a raça humana _que raras vezes simplesmente a estimo. Tive vontade de lhe perguntar como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão amaldiçoadas e tão brilhantes."
Quando assistir o filme, volto aqui para contar minhas impressões.

Agora, vejo uma narrativa construída de modo incrível não só por um, mas vários motivos. O primeiro, e um pouco óbvio, é que o narrador é nada mais, nada menos que a própria morte. Esse personagem que permeia as nossas vidas e com o qual nos encontraremos no fim, cheio de mistérios, crenças e superstições. Além de ser narradora, a morte é um personagem que passa por toda a história, acompanha os demais personagens e tem muito trabalho naquela Alemanha nazista.
Li num post sobre o filme (que ainda não assisti) e tive que concordar com o blog: a morte lança muitos spoilers durante todo o livro, antecipa cenas o tempo todo. Taí um dos fatores que deve ter me atraído mais ainda. Sou do tipo que quando está empolgada com uma leitura pula algumas linhas para saber logo o que vai acontecer e depois volta para ler o que faltou. Em A menina que roubava livros não precisei lançar mão desse artifício, porque a narradora se antecipava por mim. E teve momentos em que preferia não saber o que aconteceria páginas depois.
O contexto de guerra confere ainda mais emoção aos personagens e à narrativa. Há uma sensibilidade no ar que afeta o leitor imediatamente. Como não sentir todas aquelas emoções, fúria, tristeza, melancolia, amizade, companheirismo, piedade. Mesmo sem conhecer as atrocidades cometidas pelo Fhürer, tudo é facilmente compreendido pelas cenas e descrições.
Ah, a morte e a personagem principal, Liesel Meminger, são cheias de metáforas!
E o que há de mais bonito em todo o livro: as palavras. As palavras levam Hitler a cometer todas as atrocidades que a História nos conta. Ao mesmo tempo, as palavras são o refúgio de uma menina que passa sua infância em meio a esse clima sombrio depois de ter perdido o irmão e mãe a tê-la entregado a pais de criação. É nas palavras que ela encontra paz, é nelas que a vizinhança se concentra enquanto a guerra explode do lado de fora do porão.
E é nesse ponto que me identifico, onde há uma intercessão entre mim e Liesel. As palavras me encantam. É através delas que consigo expressar sentimentos, é minha maneira de desabafar, é o que me acalma (seja lendo ou escrevendo). Mas reconheço seu poder no sentido oposto, palavras podem ser altamente destrutíveis, magoam e podem influenciar uma sociedade inteira (como aconteceu na Alemanha nazista).
Sem dúvidas, um dos melhores livros que já li!
"Tive vontade de dizer muitas coisas à roubadora de livros, sobre sua beleza e a brutalidade. Mas que poderia dizer-lhe sobre essas coisas que ela já não soubesse? Tive vontade de lhe explicar que constantemente superestimo a raça humana _que raras vezes simplesmente a estimo. Tive vontade de lhe perguntar como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão amaldiçoadas e tão brilhantes."
Quando assistir o filme, volto aqui para contar minhas impressões.
Comentários
Postar um comentário